Foi em agosto. Me lembro como se fosse ontem. A família toda reunida lá na casa de vó, coisa que acontecia sempre... Agente sempre ia pra lá nos fins de semana, fazer uma reunião de família com churrasco e cerveja no quintal. Mas nesse mês de agosto não foi como os outros... Explico por que.
Uns seis meses antes meu vô trouxe do interior uma ninhada de pintinhos. Uns pintinhos lindinhos, fofinhos e amarelinhos. Mas tinha um que era cinza, feio que doía, e eu resolvi pegar pra criar. Sei lá, eu tenho um instinto maternal feroz e fiquei feito besta com a cara do bichinho. Passei a chamá-lo de Rôni, mas depois de um tempo descobri que era fêmea, e daí virou Rônia. Eu era uma criança, vai entender... O que eu quero realmente mostrar pra vocês é que eu amava aquela galinha: conversava com ela, brincava e até dividia meu almoço com ela... Nós éramos muito amigas.
Mas eu tive que mudar de casa. Fui morar num apartamento, e não aceitavam galinhas lá. Sintam só a minha dor! Fiquei pensando nela, a pobrezinha deve ter morrido sem minha presença. Então, era de se esperar que na primeira oportunidade eu tive que ir lá pra ver a minha amiga. A oportunidade apareceu depois de um mês... Um longo e desesperado mês! Mas vóinha me ligou chamando pra comer lá no fim de semana, e eu que não sou besta, pensei em ir ver a bichinha e comer a comida de vó, que não se recusa.
Cheguei, cumprimentei todo mundo e perguntei pra minha vó onde que tava minha galinha. E ela me respondeu sorrindo: -aqui!, indicando uma panela fumegante de galinha. Rapaz, eu entrei em desespero! Como que ela podia fazer isso? Comer um bicho de estimação, que coisa nojenta! E o pior foi ela tentando se justificar, dizendo que a Rônia tava muito velha, que tinha que comer logo pra a carne não ficar dura, e que a Rônia não era choca!! Ahh, só porque a pobrezinha não era fértil, que maldade... Duvido que ela ia gostar se eu a matasse pra comer, já que a pobre tava ficando caduca. Bom, eu admito, quase vomitei na hora, mas tive que comer minha amiga porque tempero de vó não se recusa.
Eu só sei que depois dessa desventura eu só vou criar cachorro, que depois de velho ninguém mata pra comer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário