segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Acasos

Tinha aquela garota, que trabalhava no banco. Olhava para ela e meu interior sorria. Enquanto ela batia carimbos e preenchia fichas eu a olhava. Olhava sem jeito como ela colocava o cabelo para trás da orelha, ou como ela fazia biquinho quando algo dava errado.
Ah, como eu olhava aquela mulher...
Eu olhava e ela não me dava bola. Mas como poderia? Ela era tão linda, esbelta, loura, ia trabalhar todo dia de carro, e tinha um jeito legal de olhar as coisas. Sabe quando você olha pra alguma coisa e vê outra coisa? Era assim que a Camila olhava para as nuvens, para as árvores, para os clientes, para o vento...
Ah, como ela olhava o vento e como eu a olhava...
Não que eu olhasse como os outros olhavam, eu olhava diferente, eu olhava e não deixava ela notar feeling algum que passava por mim. Na verdade, ela nem gostava muito de mim, ela dizia que eu não lhe fazia o tipo. É verdade, ela só andava com rapazes brancos, louros, e que tinham carro como ela. Ela não parecia ser acessível. Ela estava num pedestal. Eu achava que jamais conseguiria alcança-la.
Hoje em dia ela diz que eu fui o primeiro em tudo: o primeiro homem, o primeiro moreno, o primeiro fodido... Hoje nós temos filhos, somos felizes, a vida é boa... Hoje ela é mais sensível que ontem, ela deixou de dirigir e a mãe dela mora conosco, mas a vida é boa... Hoje nossa filha tem problemas, ela tem problemas, eu tenho problemas, mas, ainda assim, a vida é boa.
A vida é boa porque, enquanto eu e ela trabalhavamos naquele banco infeliz não imaginariamos que nossas vidas se cruzariam desse jeito por um feliz acaso, e que ela fosse, definitivamente, a banda da minha laranja...
Eu, o primeiro dela em tudo: primeiro homem, primeiro moreno, primeiro fodido...

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Homenagem (mesmo que ela não saiba ainda) a Regi!! Amo aquela mulher, rsrs...

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