terça-feira, 21 de abril de 2009

CHAPEUZINHO AMARELO


Era a Chapeuzinho Amarelo.
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada - nem descia.
Não estava resfriada - mas tossia.
Ouvia conto de fada e estremecia.
Não brincava mais de nada,
nem de amarelinha.
Tinha medo de trovão.
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol,
porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada, deitada,
mas sem dormir com medo de pesadelo.


Era a Chapeuzinho Amarelo.


E de todos os medos que tinha, o medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via, que morava lá pra longe, do outro lado da montanha, num buraco da Alemanha, cheio de teia de aranha, numa terra tão estranha, que vai ver que o tal do LOBO nem existia.

Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Um LOBO que não existia.


E Chapeuzinho Amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com o LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele que era assim:

carão de LOBO,

olhão de LOBO,

jeitão de LOBO

e principalmente um bocão tão grande que era capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz e... um chapéu de sobremesa.


Mas o engraçado é que, assim que encontrou o LOBO, a Chapeuzinho Amarelo foi perdendo aquele medo, o medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Foi passando aquele medo do medo que tinha do LOBO. Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo.

Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.


O lobo ficou chateado de ver aquela menina olhando pra cara dele, só que sem o medo dele.
Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo, porque um lobo, tirando o medo, é um arremedo de lobo.
É feito um lobo sem pêlo.
Lobo pelado.


O lobo ficou chateado.


E ele gritou: sou um LOBO!
Mas a Chapeuzinho, nada.
E ele gritou: sou um LOBO!
Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou: EU SOU UM LOBO!
Chapeuzinho, já meio enjoada,
com vontade de brincar de outra coisa.
Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO umas vinte e cinco vezes, que era pro medo ir voltando e a menininha saber com quem não estava falando:

LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO


Aí Chapeuzinho encheu e disse:
"Pára assim! Agora! Já!
Bem do jeito que você tá"
E o lobo parado assim
como o lobo estava,
já não era mais um LO-BO.
Era um BO-LO.
Um BOLO de LOBO fofo,
tremendo que nem pudim,
com medo da Chapeuzim.
Com medo de ser comido com vela e tudo,
interim.

LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO

Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo,
porque preferiu o de chocolate.
Aliás, agora ela come de tudo,
menos sola de sapato.
Não tem mais medo da chuva
nem foge de carrapato.

Ai, levanta, se machuca,
vai a praia, entra no mato,
trepa em árvore pega fruta,
depois joga amarelinha
com o primo da vizinha,
com o filho do jornaleiro,
com a sobrinha da madrinha
e o neto do sapateiro.

Mesmo quando está sozinha,
inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro
cada medo que ela tinha:
O raio virou ORRÁI,
barata virou TABARÁ,
a bruxa virou XABRÚ
e o diabo BODIÁ.

Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo: o Gãodrá, a Jacoru, o Barão-Tu, o Pão Bichôpá e todos os trosmons.


--
Infelizmente o link que eu achei do livro escaneado tá errado. Uma página por cima da outra, uma confusão...
Pena, as ilustrações do Ziraldo completam a narrativa...

Espero que curtam!
Aloha!

5 comentários:

Anônimo disse...

O Chico é assim, sensível por demais...
Gosto tanto desse livro, na verdade, sou muito suspeita pra falar sobre qualquer obra do Chico, figura de sensibilidade a flor da pele, que me comove desde que me entendo por gente. E como não poderia deixar de ser, Chapeuzinho Amarelo é assim, um livro tão bacana de ler e de se ver, com traços deliciosos do Ziraldo...

Um livro não só pra os pequenos!

Bacana, Ana! Gostei muito de ver ele por aqui, percebo que está se inserindo no “Mundo Buarqueano”.

Beijos, Chal

Paloma disse...

Gosto da expressão "buarqueano", rsrs...

Na verdade, achei esses contos do Buarque inspirada em você, que fala tanto, rsrs...


Por favor, visite mais!!!!


Beijooo!!!

Lais disse...

Gostei também...
Eu vi ela lendo...
Rsrsrs...
Falei pra ela não baixar, pq si não o pc trava todo...
Mas me arrependo amargamente...
Gostei demais Pii...
Valeu essa!!
BjO

Mellazul disse...

Procuramos alguem que nos preencha e nos faça sentir única
os homens nao entendem que podemos muito bem viver sem eles ^^.

obrigada pela conversa

atenciosamente Mellazul

Paloma disse...

Rsrs, disponha minha flor!!
Quando precisar estamos ai... quer dizer, aqui, hehe!!

Beijoo!